segunda-feira, outubro 27, 2003
Uma pequena pérola financeira
Um passeio pela Baixa ao fim de semana.
Ok, alguém que vá passear pela Baixa ao fim de semana está a pedi-las. E portanto recebe-as.
E assim foi comigo. Ora vejam.
Parado no semáforo, praça D. João I.
Os meus olhos percorrem a paisagem urbana. Para além da ocasional msg (miúda super gira - poderemos desenvolver a nomenclatura noutra ocasião), chama-me a atenção um belo representante do comércio tradicional da Baixa (sempre que ouço a expressão "Comércio tradicional", "I reach for my gun"; felizmente não tenho nenhuma).
Dei outra olhada. Era um banco, não o orvalho nem a neve. Um banco de dinheiro, não de jardim. Um banco de dinheiro com um reclame luminoso. Um banco de dinheiro com um reclame luminoso na Baixa.
Partilhando connosco o serviço público que o banco presta, não só na Baixa, entenda-se, mas por todo o país, o reclame fazia passar os seguintes dizeres, em loop, no meio de bla, bla, bla:
"Contas, facturas e outras chatices, nós pagamos!"
Precisei de uma pausa para compreender todo o alcance da expressão.
De forma cívica, deixei passar todo o sinal verde enquanto processava mais calmamente a informação, assim evitando sair disparado com o meu bólide à procura de cidadãos incautos para atropelar, fora ou dentro do passeio, como escape legítimo para o estímulo subliminar proveniente deste novo serviço financeiro.
Contas, facturas e outras "chatices".
Que delícia. Até esqueço a mentira descarada do "nós pagamos". Sublinho as chatices. Quem não as tem, afinal?
Repitámos todos: contas, facturas e outras chatices.
Rebolei de riso, deixando passar outro sinal verde, por segurança, sob o olhar irado dos 203 condutores que se acumulavam na fila.
Quando caíu o amarelo, saí disparado a 180 à hora à procura de outra agência bancária. Estava certo que a concorrência feroz e saudável teria levado este novo serviço a um novo patamar.
Ansiava pelo banco que me garantisse, em público, a cores e em bom português: "Contas, facturas e outras m#%&"!, nós pagamos!"
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